Maria do Socorro de Lima e Fátima Cabral são mulheres que fazem a diferença no campo. Em tempos de crise hídrica em alguns estados do País, as agricultoras familiares de Planaltina (DF) participam de um projeto do Governo Federal para melhorar a qualidade da água, reduzindo a erosão e o assoreamento de mananciais no meio rural. As duas agricultoras estão entre as famílias que adotaram práticas e manejos sustentáveis para conservar o solo e a água.

Maria do Socorro tem 56 anos e uma vida toda dedicada à agricultura familiar. Filha de agricultores e nascida em Pernambuco, estado localizado no Semiárido brasileiro, ela aprendeu desde cedo a preservar a água. “Eu venho fazendo isso há mais de 15 anos. Eu já tinha essa consciência há muito tempo. Já pensava ‘isso está errado, vai acabar a água, vai acabar o córrego’. Aprendi o que sei sozinha, porque amo a natureza e gosto de preservar”, declara a agricultora.

Há dois anos, Maria do Socorro participa do Programa Produtor de Água, que tem adesão voluntária por parte dos agricultores. Ele prevê apoio técnico e financeiro para ações como construção de terraços e bacias de infiltração, recuperação e proteção de nascentes, reflorestamento de áreas de proteção permanente, dentre outros. A agricultora fez terraceamento (técnica agrícola e geográfica de conservação do solo, destinada ao controle de erosão hídrica, utilizada em terrenos muito inclinados) e reflorestamento, em sua propriedade de 18 hectares.

“O córrego que passa aqui é o Pipiripau, que abastece duas cidades. Preservo esse córrego há muito tempo. Estou aqui desde 1986 e desde essa época que a gente vem plantando. Hoje, na beira do córrego, está tudo florido, tem abelhas lá, os macacos aparecem para comer frutas, é a coisa mais linda”, orgulha-se Maria, que ainda cuida de 50 cabeças de gado leiteiro.

A Bacia Hidrográfica do Ribeirão Pipiripau é uma área com atividade agropecuária intensiva e também principal responsável pelo abastecimento de água das cidades de Planaltina e Sobradinho.

Transição

Fátima Cabral, 55 anos, é nova no campo. A agricultura familiar entrou na vida dela e da família há 14 anos por necessidade. “Nós éramos da cidade, eu tinha um trabalho administrativo, burocrático. Nós fizemos essa migração pensando justamente nos filhos mais novos, que, na época, estavam entrando na adolescência, naquele grupo de risco, de drogas e álcool. Aí, eu e o meu esposo tivemos a iniciativa de trocar tudo na cidade e vir pra área rural”, justifica.

A propriedade da família Cabral tem 40 hectares e lá eles produzem cenoura, repolho, abobrinha e mandioca na forma convencional e banana no sistema agroecológico. O objetivo da família é adotar a forma agroecológica em toda a produção.

“A gente trabalha todo dia, acorda e levanta com esse propósito. Começamos essa transição há dois anos, a partir desse Programa Produtor de Água, que nos ajudou nessa transição. Meus filhos já vinham se negando a trabalhar com veneno, por isso se afastaram da produção. Eu estava vendo que eles iam desistir da terra, que iam embora. Eu mesma cheguei a pensar em vender a terra. Mas tivemos essa ideia de fazer a transição agroecológica e, a partir daí, tudo começou a acontecer, os caminhos começaram a se abrir”, explica Fátima.

A agricultora conta, ainda, que vai tentar acessar a linha de crédito do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) voltada para a agroecologia, o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - Pronaf Agroecologia. “Já estou me movimentando para acessar o Pronaf. Fizemos a transição para assegurar nossa permanência no campo, eu já estava desistindo. No modelo convencional não dá mais”, comenta.

Ater

O presidente da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater/ DF), Argileu Martins, ressalta que esse trabalho de preservação já vem sendo feito pelos técnicos de Ater. “A Ater já faz isso há muito tempo, quando ela organiza manejo de solo. A Emater identifica as formas de utilização da água, verifica se a propriedade tem áreas degradadas, se tem nascentes expostas, matas ciliares não cobertas, e organiza a recuperação das áreas de preservação permanente”, destaca. Foi esse o trabalho feito com as agricultoras Maria do Socorro e Fátima.

Iniciativa

O Produtor de Água é uma iniciativa da Agência Nacional de Águas (ANA) que tem como objetivo a redução da erosão e assoreamento dos mananciais nas áreas rurais. O programa, de adesão voluntária, prevê o apoio técnico e financeiro à execução de ações de conservação da água e do solo, como, por exemplo, a construção de terraços e bacias de infiltração, a readequação de estradas vicinais, a recuperação e proteção de nascentes, o reflorestamento de áreas de proteção permanente e reserva legal, o saneamento ambiental, etc. Prevê também o pagamento de incentivos (ou uma espécie de compensação financeira) aos produtores rurais que, comprovadamente contribuem para a proteção e recuperação de mananciais, gerando benefícios para a bacia e a população.

A concessão dos incentivos ocorre somente após a implantação, parcial ou total, das ações e práticas conservacionistas previamente contratadas e os valores a serem pagos são calculados de acordo com os resultados: abatimento da erosão e da sedimentação, redução da poluição difusa e aumento da infiltração de água no solo.

Fonte: Ministério do Desenvolvimento Agrário